Ele estava arrumadinho na gaveta das memórias... Era aquele caso que já dava por terminado, morto e enterrado.
Até ontem.
Ontem era manhã e o olhar dele não me largou... Estávamos em zonas opostas da esplanada, deu os bons dias, o que não esperava.
Voltámos a falar e não nego que a hipótese de me voltar a envolver com ele não me está a deixar bem alegre. Só que passaram quatro meses, ele diz que gosta de mim mas que não quer que o pressione. Eu não quero fazer dele troféu nem trazê-lo com uma trela. Apenas saber com o que contar...
A conversa hoje foi basicamente isto.
A quatro meses atrás, ele era meu vizinho. E eu não tinha ainda televisão, nem o computador nem a net instalada cá em casa. Estava a trabalhar a mais de 100km de distância de casa, as coisas não estavam a correr bem. Ele re-surgiu na minha vida na altura certa. Já o conhecia, já tínhamos tentado ter sexo no verão passado mas retraí-me e não rolou. No inverno, está frio e sabe melhor estar juntinho. Tivemos algumas noites épicas, seja intimamente ou não.
Chorei-lhe no ombro, descarreguei algumas vezes nele sem ter culpa nenhuma. Dormiu algumas noites mal a conta do meus pulsos abertos (Síndrome do túnel do carpo, uma lesão de esforço).
Até inesperadamente mudar de casa, até ter ficado danada por não me ter dito nada, por tê-lo confrontado e ele não ter gostado. Depois foi seguir em frente, muitas horas no chat, os dois casos arquivados de que já aqui falei. Ele foi muito importante numa altura em que me senti muito só. Curiosamente, tenho sentido uma solidão parecida... Agora por diante, sei lá... Aguardem os próximos capítulos.!!
É a meta para este ano, sem olhar ao tamanho do biquini. Ir pela primeira vez a praia. Para quem achar estranha esta situação, basta ter noção da realidade do interior. Aqui ir de férias é um luxo, o mar fica muito longe, e as férias a que se tem direito no emprego usam-se para fazer as colheitas da azeitona, da amêndoa e até mesmo da vindima. Em muitos casos, é pelo dinheiro extra que entra, outros é pela disponibilidade para se aproveitar o que se tem. Mas este ano, dada a saída de casa dos meus pais e a curiosidade que tenho, e tempo também vou ter de certeza....este ano vou finalmente a uma praia de mar!
Já me cruzei com raparigas da minha geração e pensei: nunca vou ser como elas.
Isto ganha dimensão quando as ditas foram colegas de escola.
Com as outras, posso bem.
Ás vezes tenho complexos, por não andar tão bem arranjada, não ter o meu séquito de amigas.
Outras vezes, penso no quão raro é ver uma mulher a fazer o meu trabalho, sem perder a feminilidade, a lidar com homens, a liderar homens e sendo respeitada. E sem ter ar de "aldeia", como têm as poucas colegas com que me vou cruzando por aí.
Não faço ideia de quanto custa a roupa na Primark mas sei e bem quanto custam umas botas Chiruca (são assim, o supra-sumo do calçado de trabalho).
Mas o complexozinho está cá...
E sei que os homens olham é para elas, femininas, arranjadas, bonitas.
Queria-te aqui, o meu pijama dos minions amarrotado pelo teu abraço, o teu perfume fundido na minha pele, a minha mão perdida pelo teu cabelo.
Queria-te assim, companheiro, cansado do dia e terno da saudade, com o pensamento a seguir as mãos, que me massajam o corpo e reconfortam a alma.
Queria o encosto do teu peito ao invés do sofá, a tua voz a ecoar pela sala sem precisar do ruído de fundo da tv. Queria-te aqui , mas não era por capricho ou somente porque sim. Tudo tem uma razão de ser e hoje era poder adormecer a sorrir nos teus braços.
Feliz e ao mesmo tempo com todos os medos do mundo que ela sofra.
E aquela nostalgia. Apaixonei-me pelo meu melhor amigo da altura justamente com 13 anos.
O primeiro amor...meu deus.
Andei atrás dele, pacientemente, durante três anos.
Faltava as aulas para poder almoçar com ele. Armei-me em jogadora de futebol. Por pouco não me tornei adepta do benfica. Por pouco!!
Eu era doida por ele, ele aproveitava a atenção e toda a gente me gozava por isso. Principalmente, por toda a gente ver o que eu não via: ele não gostava de mim.
Felizmente, o acordar para a realidade foi suave, fui esquecendo aos poucos.
E foi a indiferença dele perante o meu afastamento que tornou o óbvio, evidente.
Vivi momentos marcantes, éramos muito cúmplices.
Acho que foi essa cumplicidade que tornou tudo tão mágico.
Apesar de ter sido só eu a gostar.
Ele é loiro, pele clara e olhos azuis. Não mudou muito as feições desde essa altura.
E as raparigas com que o fui vendo desde esses tempos, fisicamente não tem nada a ver comigo: cheinhas, tom de pele rosado e mais baixas do que ele.
Custava muito ter-me dito que não fazia o tipo dele?