Porque é que a vida te leva para longe dos meus braços, a cada dia que amanhece?
Não podemos ficar naquelas boas figuras em que estamos quando o despertador toca?
O desejo gosta de se adiantar e acorda-nos antes da hora para termos tempo até a hora, para maldizermos a hora, para adiarmos por mais 5 minutos o inadiável...
Não sei quem deseja mais quem, ele provoca e eu deliro, quando sou eu a querer ele parece que pressinte..
Acabamos sempre a gargalhada. Ele ainda tem tanto de menino, tão terno, tão apaixonado, tão quente..
E eu cada vez mais rendida, não questiono, vivo, dou-me.
Ele sorri. De cada vez que está comigo o olhar brilha tanto..
A minha cama já não faz sentido sem a chamar de nossa.
A tua pele colada na minha é aquela sensação doutro mundo.
Mas o tempo não pára nestes momentos. Bem queremos mas...
Somos tão felizes em segredo, nesse enredo feito entre lençóis, noite após noite.
Três dias em casa sem conseguir ir para o campo e sinto-me a beira do colapso.
Três dias a olhar para as paredes, sem ânimo, com atenção triplicada as previsões do estado do tempo.
Três dias a ouvir agoirentos, a tentar não me passar, a implodir internamente para não perder a postura. E a revolta é maior quando acabam por ter razão.
A chuva vence. O trabalho não se faz e não há encaixe financeiro.
Fica a frustração e a raiva.
Não é justo querer levar o barco para a frente e haver barreiras.
Não devia haver obstáculos para os obstinados. Não devia, simplesmente.
Por um lado tenho orgulho da minha natureza determinada.
O outro lado é não ter seguidores.
Mas espero que os meus colegas percebam a tempo que a agricultura não é para fraquinhos.
Ou bem podem ir pensando em mudar de ramo profissional.