Sou uma visionária. Passei sete anos da minha vida sem ir a um cabeleireiro e o cabelo não me chega aos pés, mas tenho as pontas todas desalinhadas, a franja um desastre, o que dá uma óptima imagem de mim. Não me sinto tão mal dado o contexto, tanta gente fechada em casa, tanta tesoura mal fiada e tanta falta de jeito, ou melhor, muita criatividade não reconhecida.
Quatro meses a viver sozinha e tenho que admitir que isto não foi bem o que esperava.
Ao inicio, foi a solidão.
Agora, ainda custa ter ideias para o jantar, ainda custa manter tudo arrumadinho, não perder o controlo.
Mas não troco, decidamente.
Em casa dos pais tinha cama, comida e roupa lavada e as tarefas domésticas eram uma mera ajuda. Mas vi-me sem perspectivas, acomodada, apagada. Não almejava liberdade porque não lhe via vislumbre.