Três dias em casa sem conseguir ir para o campo e sinto-me a beira do colapso.
Três dias a olhar para as paredes, sem ânimo, com atenção triplicada as previsões do estado do tempo.
Três dias a ouvir agoirentos, a tentar não me passar, a implodir internamente para não perder a postura. E a revolta é maior quando acabam por ter razão.
A chuva vence. O trabalho não se faz e não há encaixe financeiro.
Fica a frustração e a raiva.
Não é justo querer levar o barco para a frente e haver barreiras.
Não devia haver obstáculos para os obstinados. Não devia, simplesmente.
Por um lado tenho orgulho da minha natureza determinada.
O outro lado é não ter seguidores.
Mas espero que os meus colegas percebam a tempo que a agricultura não é para fraquinhos.
Ou bem podem ir pensando em mudar de ramo profissional.
A crise de que o Presidente Marcelo falou recentemente, a tal crise que ainda não se notava muito no Douro...
Daqui por diante vai notar.
Com o cortar das pontas na vinha, acaba o grosso do trabalho, até a vindima.
Boa parte da mão de obra vai parar, e este ano não há os empregos de verão que muitos colegas arranjavam, porque o trabalho é sazonal mas a vida faz-se todos os dias.
Temo pelas dificuldades que muita gente vai passar.
Antes do confinamento, éramos 23 pessoas a trabalhar.
Durante, o mínimo fomos 7 e o máximo 10.
Presentemente, e já com o trabalho a mingar, somos 14.
Sinto que toda a gente olha para o lado, sinto que há um real receio de ser mandado embora.
Ninguém anda feliz com a perspetiva de ficar sem trabalho.
E nós, somos aquele complemento ao dito pessoal da "casa" nas quintas, chamam se necessário, e em maré de contenção de custos, somos um luxo que se evita.
Não há dinheiro.
Há reduções de benefício, há crise real a espreita, há ansiedade.
Há medo. Muito medo.
Acho que mais do que nunca, o Douro tem que resistir porque por muita mecanização, o Douro é e será as pessoas.