Em frente ao tocador, despenteada, desanimada, desarmada.
Pronta para me esconder de novo nos lençóis...
Pronta para bater em retirada, para não ter de enfrentar a roupa que acho que não assenta bem, para recuperar o travo da vida em dentadas a comida de treta, para afundar ainda mais.
Até que essa ela, que não é mais do que eu do outro lado do espelho, desata a rir...
Há uma escova para o cabelo, uma roupa bonita para o corpo e uma vida lá fora.
Há um mundo a enfrentar e tu é que escolhes as armas com que o enfrentas.
Há atitude a ganhar e isso ninguém pode fazer por ti.
Podes ser eternamente a mulher do pijama, fofinha, coisinha e outras parvoíces acabadas em -inha. Mas depois não te queixes do rumo que irá levar a tua vida.
Podes aceitar os defeitos e as virtudes, podes aceitar o corpo curvilíneo e domá-lo e aperfeiçoá-lo. Se realmente tiveres vontade és capaz disto e de melhor.
Ser mulher é muito mais do que ter vagina e peito. É ser um concentrado de toda a força que existe no universo.
És mulher, és naturalmente poderosa. Devias ter um post-it na testa para não te esqueceres disto. Vai lá para fora e mostra ao Mundo o orgulho do sexo feminino.
A culpa de estares essa lástima é tão somente e só tua.
Já me cruzei com raparigas da minha geração e pensei: nunca vou ser como elas.
Isto ganha dimensão quando as ditas foram colegas de escola.
Com as outras, posso bem.
Ás vezes tenho complexos, por não andar tão bem arranjada, não ter o meu séquito de amigas.
Outras vezes, penso no quão raro é ver uma mulher a fazer o meu trabalho, sem perder a feminilidade, a lidar com homens, a liderar homens e sendo respeitada. E sem ter ar de "aldeia", como têm as poucas colegas com que me vou cruzando por aí.
Não faço ideia de quanto custa a roupa na Primark mas sei e bem quanto custam umas botas Chiruca (são assim, o supra-sumo do calçado de trabalho).
Mas o complexozinho está cá...
E sei que os homens olham é para elas, femininas, arranjadas, bonitas.
Olhei para este modelito, sabendo que nunca calçarei algo assim.
Tenho o pé grande alto e largo, o dito 40 biqueira larga, e é um filme para encontrar calçado que sirva e não seja um modelo entre o " dá para os dois", masculino e o puro mau gosto.
Mas as mulheres de pé grande são menos femininas do que as outras?
Para as marcas de calçado, parece que sim.
Chegam ali ao tamanho 39 e....para o resto não há direito.
Não há sabrinas para tamanhos grandes.
Não há calçado de salto alto minimamente bonito para tamanhos grandes.
Mas o mais escandaloso foi descobrir que há sapatilhas que não há 40. (Isto é especialmente doloroso quando se anda a namorar certo modelito durante semanas e depois....)
Isto tem que acabar.
Basta de cingirem as patudas ás botas de trabalho e ás chinelas!
Basta do preconceito sobre a elegância dos pés grandes!
Basta de ouvir " só há até ao 39!".
Basta!!!!
A feminilidade é algo muito maior do que os nossos já grandes pés, por isso, queria pedir genuinamente que as marcas fizessem sapatos elegantes também para nós.
Mais do que algo lógico, é uma questão de igualdade.
Cada um reinvidica o que lhe doí. Eu luto para acabar com esta discriminação.
Sou uma visionária. Passei sete anos da minha vida sem ir a um cabeleireiro e o cabelo não me chega aos pés, mas tenho as pontas todas desalinhadas, a franja um desastre, o que dá uma óptima imagem de mim. Não me sinto tão mal dado o contexto, tanta gente fechada em casa, tanta tesoura mal fiada e tanta falta de jeito, ou melhor, muita criatividade não reconhecida.