Vejo toda a gente a minha volta ocupada com as suas vidas e nem consigo sequer desabafar.
Funciono muito por instinto e noto logo quando as pessoas estão enfastiadas com a conversa.
Por isso evito falar.
Por isso tento fazer rir para não choramingar, tento pôr todos ao meu redor um um pouco melhor tentando tirar reconforto daí também.
Sou orgulhosa demais para ligar a mãe a pedir colo e ao pai a pedir um pouco da força que lhe é tão característica. Só para não os ouvir dizer: eu avisei.
Não me arrependo de ter saído de casa. Nem por um bocadinho. Mas há situações em que somos realmente postos a prova e olha agora a vida a testar-me e que teste bem duro...
Dei conta da minha imaturidade em tanta coisa...
Afinal não sou tão forte assim..
Afinal a solidão também me custa, também choro mais ou menos abertamente, também tenho momentos bons por entre a estadia na fossa, também sou humana...
Afinal crescer não é tão fácil como julgava. E eu que tinha tanta pressa de ter 18 anos....
É a meta para este ano, sem olhar ao tamanho do biquini. Ir pela primeira vez a praia. Para quem achar estranha esta situação, basta ter noção da realidade do interior. Aqui ir de férias é um luxo, o mar fica muito longe, e as férias a que se tem direito no emprego usam-se para fazer as colheitas da azeitona, da amêndoa e até mesmo da vindima. Em muitos casos, é pelo dinheiro extra que entra, outros é pela disponibilidade para se aproveitar o que se tem. Mas este ano, dada a saída de casa dos meus pais e a curiosidade que tenho, e tempo também vou ter de certeza....este ano vou finalmente a uma praia de mar!