Não nasci com carapinha como a minha tia e primas mas gostava...
O meu cabelo é liso e chato. Herança do lado paterno.
Gosto de pensar que um familiar distante veio lá de Cabo Verde para esta pequena terra e ficou, gerou descendência e deixou a magia que faz daquele arquipélago um lugar tão único.
Numa altura em que o racismo sobe de tom, era bom recordar a essa gente que boa parte de nós é descendente dos escravos que os duros e puros portugueses foram buscar a África.
A raça mais forte disseminou-se. Ou achavam-se linhagem direta do bravo Viriato?
Pensem que até o nosso primeiro rei era filho de um cruzado da Borgonha!
França, oh lá lá!
A nossa terra sempre foi de muitos e sempre será.
Tanto é português o cigano como o habitante da Cova da Moura.
O beto da Quinta da Marinha e o morcon do Porto.
O provinciano e o alentejano.
Pensem que Portugal é um país pequeno mas com tanta diversidade..
O verdadeiro patriotismo devia começar por aí: orgulho da mescla.
Já me tinha apercebido de que faltava aqui qualquer coisa, um travo de pimenta, ou como eu adoro aromas, um travo de noz-moscada...
Sempre achei que quando voltasse a ter alguém era para a vida todaaa...
Até era. Mas o tempero não me convence.
Sinto a minha intuição a gozar comigo. A sério.
"Já deixaste de gostar de ursinhos de peluche a muito tempo, querida" diz-me ela entrelinhas, quando não sinto aquelas borboletas na barriga quando o vejo, quando acho que o nosso beijo não é propriamente apaixonado, que amo o moço mas lá no fundo acho-o uma seca.
Isto é o que dá andar a idealizar durante muito tempo.
E espero que seja só isso, ou o meu cansaço depois de seis dias no campo, viagens longas, stress...