Eu era a imagem do embaraço, quando aquele senhor parou a pedir indicações, quando sorriu para nós daquele jeito maroto...
Quando me puseste no murete para estar a tua altura. Quando me levantaste e voltaste a pôr no dito murete mesmo ainda estando ali três carros a inverter a marcha e beijaste de forma ainda mais meiga do que o costume.
Quando passeámos pela beira-rio e cruzarmo-nos com tanta gente minha conhecida. Não contava assumir-te já mas...
Aconteceu.
Não tenho vergonha de assumir que estou contigo, até porque a paz que me dás é única, até porque quando não te vejo falta algo, até porque o que sinto é real...inesperadamente real.
Eu, a tipa do Tinder.
Eu, a tipa da masturbação á distância, dos amores impossíveis.
Eu, que achava que gostar de alguém envolvia complicações.
Eu, no primeiro dia em que nos vimos, assumo que te achei um arrogante.
Nós, a mandar as urtigas ideias pré-concebidas e tudo mais.
Foda-se para quem ameaça cobardemente pelo messenger, whatsapp e afins.
Foda-se para quem teima em medir peito com a chefia só porque é mulher.
Foda-se para o tentar meter medo como via de se conseguir o que quer.
Foda-se para o constante ter que provar o que se vale porque se é mulher, não poder perder a postura ou lá se vai o respeito, ter que se explicar o porque sim.
Foda-se.
Um colega ameaçou-me com porrada só porque não foi incluído na equipa.
Já o tinha feito antes.
Tem um histórico de violência doméstica, teve 13 queixas e apanhou pena suspensa.
Vivo sozinha e tenho receio.
E perante isto, porque a justiça já devia ter castigado este tipo, só digo...
Olhei para este modelito, sabendo que nunca calçarei algo assim.
Tenho o pé grande alto e largo, o dito 40 biqueira larga, e é um filme para encontrar calçado que sirva e não seja um modelo entre o " dá para os dois", masculino e o puro mau gosto.
Mas as mulheres de pé grande são menos femininas do que as outras?
Para as marcas de calçado, parece que sim.
Chegam ali ao tamanho 39 e....para o resto não há direito.
Não há sabrinas para tamanhos grandes.
Não há calçado de salto alto minimamente bonito para tamanhos grandes.
Mas o mais escandaloso foi descobrir que há sapatilhas que não há 40. (Isto é especialmente doloroso quando se anda a namorar certo modelito durante semanas e depois....)
Isto tem que acabar.
Basta de cingirem as patudas ás botas de trabalho e ás chinelas!
Basta do preconceito sobre a elegância dos pés grandes!
Basta de ouvir " só há até ao 39!".
Basta!!!!
A feminilidade é algo muito maior do que os nossos já grandes pés, por isso, queria pedir genuinamente que as marcas fizessem sapatos elegantes também para nós.
Mais do que algo lógico, é uma questão de igualdade.
Cada um reinvidica o que lhe doí. Eu luto para acabar com esta discriminação.
Assim, como na realeza mas em mau ou em versão povo.
És o fulano que trabalha para sicrano, és o zé do que fumas ou bebes ou dos sítios que frequentas ou onde vives.
Nunca és só tu. Parece que o mundo tem necessidade de nos acoplar coisas.
Era tão mais simples se o sentido de identidade fosse só um nome e uma cara. E em teoria, é, mas na prática...
Na prática isso não acontece e por vezes estes rótulos trazem problemas, causam estigma e funcionam como diferenciadores negativos. Numa sociedade cada vez mais segregária como a nossa ...
Independentemente de onde se vêm, do que se fez ou faz , acima de tudo somos nós, cada um a sua maneira.
E estes rótulos têm que ser vistos meramente como parte de uma imensidão que é cada um de nós.
Não sei, digo eu, Mary, ou Maria También como a música dos Kruangbin :)