Não sei se é mistica, ou magia, ou o carinho que vou ganhando a cada regresso.
O facto é que me sinto muito bem ali.
Sinto-me em casa.
E acalento o sonho , já a algum tempo, de tentar reverter a desertificação, de trazer gente, de tornar o lugar conhecido, de mais do que tentar explicar a minha paixão, é provar que tem fundamento, mostrar o que tanto me encanta ali..
É uma pena o abandono a que já vai sendo deixado. Uma pena mesmo.
Certa vez enchi-me de coragem e escrevi um email á Presidência da República, a sugerir uma visita por meio de aferir no terreno a desertificação do interior.
Recebi a resposta do chefe da casa civil, obviamente foi recusada.
O sr. Presidente , a CMTV e os abutres só aparecem quando há desgraça. É certinho.
O sonho continua cá, e no momento certo da minha vida vai materializar-se.
Quando o frio te fazia doer as mãos e as apertavas no pano para aquecerem?
Quando eras a primeira a chegar e cantarolavas aquela canção no pátio , tantas vezes?
Lembras-te de todas as vezes que desejaste ver-te livre da melancolia, da vida não ser tão pesada, tão dura?
Olha para ti, agora!
De vestido florido e livro na mão a passear pela cidade, ora com auriculares, ora sem, mediante a pressa.
Os únicos horários com que tens de te preocupar é a hora da saída da colega, para a senhora não ficar sozinha. E ainda arranjaste uma avó por quem tens um carinho genuíno.
A solidão ainda te pesa, mas já é diferente. Estás livremente só.
Já começas a ter a vida que escolheste para ti. Agora é não desistir e sobretudo, não ter medo.
Eu e a melhor amiga de infância, quando dávamos concertos em bancos de jardim, atrás das tendas de venda de discos e cassetes, nos dias de feira, a fazer playback e a dançar como achávamos que dançavam as bailarinas dos videoclips. Tanta tarde passada a ver o "Made in Portugal" para acabar num mundo sem purpurinas...
Nós tínhamos um nome para o nosso duo, e havia algo que era sempre igual: o destaque era ela. Erámos a versão infantil-rasca-provinciana das Tayti, de quem muito gostávamos por sinal.
Olhando para trás, dá uma tremenda vontade de rir. Não dançávamos nem cantávamos nada bem, mas a diversão era a rodos. Não faltavam ideias, desde que houvesse música.
Eu gosto de pimba, como gosto de reggaeton, rock indie e flamenco e outros géneros. O pimba é música ligeira, é divertido, as letras das músicas não são poesia mas e então? Ficam no ouvido e toda a gente troteia alguma de vez em quando. Quim Barreiros é susceptível de deixar gente púdica, corada, mas também arranca boas gargalhadas!
Por isso não quero nem pensar neste verão, em particular no mês de Agosto. Fim de Julho era a festa da aldeia, meados de Agosto é da vila, na terceira semana de Agosto coincidiam duas e arranjava-se sempre maneira de ir a ambas. Vai fazer falta a folia, juntar a família, ver as procissões. Vai ser um Verão sem sabor a Verão.
A menos que me dê na gana de concretizar o sonho de infância e dar concertos na varanda.....
Queria-te aqui, o meu pijama dos minions amarrotado pelo teu abraço, o teu perfume fundido na minha pele, a minha mão perdida pelo teu cabelo.
Queria-te assim, companheiro, cansado do dia e terno da saudade, com o pensamento a seguir as mãos, que me massajam o corpo e reconfortam a alma.
Queria o encosto do teu peito ao invés do sofá, a tua voz a ecoar pela sala sem precisar do ruído de fundo da tv. Queria-te aqui , mas não era por capricho ou somente porque sim. Tudo tem uma razão de ser e hoje era poder adormecer a sorrir nos teus braços.