Duas linhas de fogo, mais a que não se vislumbrava do lado de cá, por sinal, a maior.
Toda a gente em pânico.
Toda a gente perdeu haveres para o fogo.
O ar era irrespirável, logo pela manhã. Em conjunto com o calor, tornava o trabalho quase um sacrifício.
Não se via mais do que 200 metros a nossa frente. Vários reacendimentos.
Não sei o porquê, sei que raro é o ano em que uma das fragadas que delimitam o vale, arde. E lá volta a repetir-se o tormento e sobretudo, lá volta o luto a paisagem.
Gostava de perguntar a quem ateia fogos, o porquê.
Não entendo.
Trabalhar na natureza tem-me feito entendê-la, e cada vez mais, respeitá-la.
E eu, tão jovem, esbanjadora de saúde, resistente a calor e frio, capaz de segurar a bexiga dias inteiros, comer porcaria sem se notar na pele e no físico. E eu, essa força da natureza indestrutível, inolvidável, corajosa e indomável, capaz de dobrar preconceitos e estereótipos.
E eu sempre tão segura de mim...
Afinal sou humana e também falho. E essas falhas estão a apagar muito do que conquistei. Stress que causa mais stress.
Falhas de memória e um cansaço quase crónico, o quadro é este. Se não usasse método contraceptivo até podia pensar em gravidez e mesmo assim sei lá...
Ando preocupada. Não me sinto com cabeça para nada, são problemas atrás de problemas.
Lutei tanto para construir uma reputação quase imaculada profissionalmente e agora vejo tudo a ir-se, assim. Parece uma espiral sem fim.
E eu, tão segura de mim...tão perdida sem saber o que se passa. :(