A distância
Sabíamos que isto ia acontecer.
Mas nunca se está preparado...
Por muito que repita que é o meu trabalho, desta vez foi diferente.
Desta vez não foi só o término de um trabalho...
...é o deixar de te ver todos os dias...
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Sabíamos que isto ia acontecer.
Mas nunca se está preparado...
Por muito que repita que é o meu trabalho, desta vez foi diferente.
Desta vez não foi só o término de um trabalho...
...é o deixar de te ver todos os dias...
Acendo o cigarro.
Sinto o travo da nicotina mentolada na boca.
Os camel já não tem a bolinha para rebentar, uma treta...
Olho a vista da minha varanda, é bonita.
Nunca me hei-de esquecer das vezes que passei nas aulas de condução por certos lugares que vejo de cá. Recordações de sempre..
A vindima que já rola, a logística envolvida nesta altura, o autêntico corropio de gente nas vinhas. A verdadeira festa das colheitas é agora.
É nisto que estou focada agora.
Vou trabalhar num sítio incrível, com uma equipa bi-nacional, três culturas diferentes.
Senhora capataz ao serviço :)
Depois há a vida pessoal, que nestas alturas fica um bocadinho para trás sem lamentos.
Não vos consigo explicar a euforia que são as vindimas para mim, mas é todo um ano inteiro a preparar a vinha para isto, a cuidar das cepas e das uvas, ter os terrenos o melhor possível para o pessoal poder trabalhar..
O cigarro já vai quase no fim.
Tenho um nó no estômago já a dois dias.
Dei por mim a fugir de algo que parecia promissor...
Tenho sido cobarde.
Nem sempre as surpresas da vida vem na melhor altura.
Noutra altura, tinha sido perfeito.
Nesta...longe disso.
Também faço asneira, mas sou livre de não querer o já quis.
E á medida que te ia escrevendo, a visão de ti ali, deitado na cama, olhar maroto, do outro lado do corredor era cada vez mais realista.
Senti a aura de sedução, senti todo o nervosismo..
Sabendo que estás ainda longe daqui, fisicamente, mas de resto tão perto que quase te sinto..
Tenho medo, mas quero ter-te.
Tenho pudor, mas vai acontecer.
Estou ansiosa, mas os pés bem assentes no chão..
Não sei o que isto, mas é bom..
Vejo toda a gente a minha volta ocupada com as suas vidas e nem consigo sequer desabafar.
Funciono muito por instinto e noto logo quando as pessoas estão enfastiadas com a conversa.
Por isso evito falar.
Por isso tento fazer rir para não choramingar, tento pôr todos ao meu redor um um pouco melhor tentando tirar reconforto daí também.
Sou orgulhosa demais para ligar a mãe a pedir colo e ao pai a pedir um pouco da força que lhe é tão característica. Só para não os ouvir dizer: eu avisei.
Não me arrependo de ter saído de casa. Nem por um bocadinho. Mas há situações em que somos realmente postos a prova e olha agora a vida a testar-me e que teste bem duro...
Dei conta da minha imaturidade em tanta coisa...
Afinal não sou tão forte assim..
Afinal a solidão também me custa, também choro mais ou menos abertamente, também tenho momentos bons por entre a estadia na fossa, também sou humana...
Afinal crescer não é tão fácil como julgava. E eu que tinha tanta pressa de ter 18 anos....
Aproveitar as ilusões, não é?...
Foi um despertar estranho.
Sem o café no pátio, com o livro no colo.
Sem o descer das escadas pé ante pé...
Sem a sinfonia das pombas..
De volta á realidade.
De volta a solidão.
De volta a casa.
Tempo quente e o meu corpo gelado.
Choro velado, angústia presa na garganta...
O que é que eu faço?
Beberiquei o chocolate quente. A noite estava bonita e senti a angústia amainar.
Pedi um sinal, como faço sempre quando não sei o que fazer.
Até lá, sigo serena.
Lembras-te?
Quando o frio te fazia doer as mãos e as apertavas no pano para aquecerem?
Quando eras a primeira a chegar e cantarolavas aquela canção no pátio , tantas vezes?
Lembras-te de todas as vezes que desejaste ver-te livre da melancolia, da vida não ser tão pesada, tão dura?
Olha para ti, agora!
De vestido florido e livro na mão a passear pela cidade, ora com auriculares, ora sem, mediante a pressa.
Os únicos horários com que tens de te preocupar é a hora da saída da colega, para a senhora não ficar sozinha. E ainda arranjaste uma avó por quem tens um carinho genuíno.
A solidão ainda te pesa, mas já é diferente. Estás livremente só.
Já começas a ter a vida que escolheste para ti. Agora é não desistir e sobretudo, não ter medo.
Keep going.
Já passei por mãe da minha mãe.
Raramente me dão menos de 30 anos (tenho 26!)
Já fiquei com as calças manchadas da menstruação no trabalho. (2x, equipa só de homens, longe de casa)
Já mandei uma chave de casa para a parte mais alta do telhado (a única que havia, e tudo a espera para entrar)
Já deixei a família toda trancada num anexo (foi sem querer!)
Já fiquei apeada por causa do meu mau feitio.
Já me pediram para imitar a voz da Marilyn Monroe ao telemóvel.
Já me envolvi com alguém que conheci na net (it was so good!!!)
Já fiz tanta figura de ursa em frente a pessoas por quem tive apaixonada.
Já fiquei bêbeda só com uma cerveja.
Já fui apanhada em soutien no trabalho.
Já fui assediada no trabalho. ( e já me inventaram casos com todos os homens com quem trabalho.)
Já levei uma nega da presidência da República (uma longa história!!)
E vocês, que tipo de situações o vosso azar já vos proporcionou?
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27 Outubro, 2020
Porquê... Porque é que a vida te leva para longe dos meus braços, a cada dia que amanhece? (...)
16 Julho, 2020
1_"sou homem peludo avantajado e procuro so rapariga de maior idade do alentejo para prazer (...)
14 Julho, 2020
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15 Maio, 2020
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12 Maio, 2020
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